Eu gosto de coisas que você não gosta, e você gosta de
coisas que eu não gosto. Será que da pra discutir essa coisa chamada gosto?
Essa é a idéia desse texto.
Vamos começar com uma frase de Oscar Wilde: “Meu gosto é
muito simples, gosto do melhor de tudo...”
Certamente desde criança, você escuta aquele velho chavão,
que diz que gosto não se discute, não é? Pessoalmente acho que esta frase foi
criada para livrar as pessoas das incomodas discussões que envolvem o
subjetivo. Gosto não se discute e ponto.
Ele gosta de jaca e eu odeio.
Eu gosto de quiabo e ela odeia.
Eles gostam de pagode, eu odeio.
Eu gosto de musica clássica, eles odeiam.
Tem quem gosta de um time de futebol, e tem muitos outros
que não.
Eu só como coisas naturais, outros acham que o industrializado é o melhor.
Gosto é subjetivo e portanto não se discute.
O cantor Lobão disse uma coisa super legal a respeito: o
gosto se discute SIM. O gosto é um acumulo de reflexões, de capacidade de
criticar, de senso critico e tudo isso desenvolve ou atrofia o seu gosto.
Então... O gosto se discute sim. E a nossa sociedade? Tem
bom ou mau gosto?
Mas isso não se aplica somente ao que comemos. Podemos
incluir de tudo, desde arte, musica, literatura, arquitetura, e o que der na
telha. Existe um texto feito por Jonas Lopes, que fala sobre isso. Neste texto,
Jonas fala sobre um critico de arte norte americano, que escreveu vários livros
sobre o gosto. Para ele, o gosto ganhou uma abordagem mundana e fútil. Para tal
critico, o gosto está mais relacionado a boas maneiras de uma pessoa, do que
avaliações estéticas em si. Mas o que seria o gosto então? Ele nasceria de uma experiência
de intuição estética. Gostar ou não gostar, comover-se ou menos, irritar-se com
algo, etc... Entramos em contato com uma pintura, uma melodia, um poema, uma
comida; e isso nos toca de uma determinada forma, somos influenciados por
nossas experiências anteriores, por nossa biografia, por aquilo que conhecemos,
apreciamos e até mesmo ignoramos. O juízo estético de cada um é uma intuição e
nada mais e por isso é acolhido por um individuo, e não oferecido. Por causa
disso, não se escolhe gostar, ou deixar de gostar de determinado sabor, ou obra
de arte, ou qualquer outra coisa.
Bem, logo posso deduzir que gosto é de fato uma intuição.
Isso me faz lembrar de certas reportagens fúteis que a televisão apresenta
ocasionalmente, sobre alguns jogadores de futebol que possuem carros de sonho, casas
maravilhosas, vestindo-se de forma impecável, usando jóias que uma pessoa
normal poderia ajudar os filhos e os netos a comprar casa, e tudo isso para no
interior desta maravilhosa residência, em uma televisão de vinte e cinco mil
reais, com um blu ray fantástico, e tudo isso para o jogador inserir o disco do
show do cantor Belo...
Pois é, isso acontece...
Voltando ao assunto do gosto, é a partir do conhecimento ou juízo
que alcançamos o prazer ou desprazer, ou seja, o gosto. O juízo só pode ser alterado ou confirmado a
partir da experiência, do contato direto com o item em julgamento.
São como as lagrimas que alguém derrama quando visita um
museu maravilhoso, ou assiste a uma ópera, ou um filme, ou simplesmente lendo
um livro. Algumas coisas tocam mais ou menos os sentidos das pessoas. Mas o
fato de tocar ou menos não significa ter mais ou menos valor, significa somente
que o individuo presente pode estar mais ou menos preparado para apreciar o que
lhe é oferecido.
E o dilema central é sempre o mesmo: como fazer uma diferenciação
eficiente do que seria bom ou mau gosto?
Acho que existe o gosto natural, que é algo que nos atinge e
surpreende, e por outro lado existe o gosto adquirido, que seria algo cultivado
e desenvolvido em determinada direção. O gosto adquirido pode alterar o gosto
natural, conduzir nossas preferências para uma determinada direção, seja ela
melhor ou não. É uma questão de ampliar
o próprio repertório, provar novas sensações que infelizmente não estão disponíveis
para os que não possuem sensibilidade para tal prazer.
Tudo isso seria bem resumido, imaginado um casal diante de
uma obra de arte. Ele olha a obra e nada percebe. Ela por outro lado deixa
escapar uma lagrima de emoção. O marido então pergunta para a esposa o que ela
vê de tanto especial naquela tela. Ela responde da seguinte forma:
“Não da pra ver do lado de fora, o que não existe dentro de
você.”
Este texto é um resumo adaptado do programa 334 do Pod Cast Café Brasil, e que conta muito bem o que eu vivo todo fim de semana, durante o exercício do meu trabalho. Nas vezes que uma pessoa reclama que no picolé de abacaxi, encontrou pedacinhos da fruta. Ou quando me perguntam, após eu especificar que se trata de um produto natural, se eu tenho o sabor groselha azul.
Acho que não preciso mais explicar, não é? Até o próximo texto.
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